A1/b – Texto para reflexão (09/04/2011) MANHÃ
Parabenizo-os pela perseverança em continuar aprofundando os conhecimentos acadêmicos por intermédio desta especialização, e aproveito a oportunidade para convidá-los a refletir um pouco sobre justiça, direito e leis.
Em 2005 fiquei estarrecido com um fato ocorrido em Sobral. Juiz mata cidadão a queima roupa. Tal fato conduziu-me a uma reflexão que gerou o artigo abaixo.
Convido-os a refletir sobre justiça,direito e leis, e a perceber que o tempo passou, mas alguns operadores do direito ainda insistem em distanciar o direito da justiça.
NOMEADO JUIZ, EMPOSSADO DEUS.
FLÁVIO ARAGÃO XIMENES, Advogado.
A sociedade tombou banhada de sangue estarrecida com a surpresa de ter sido alvejada pela Justiça que impiedosamente disparou-lhe um tiro à queima-roupa. A constatação inicial da pobre vítima, mesmo que equivocada, uma vez que é fruto de uma primeira impressão precipitada, haja vista que nem tudo que pensamos ser é: remete-nos a um campo vasto de questionamentos. Não podemos pecar em generalizar casos específicos e entender que sempre a parte é idêntica ao todo. Devemos distinguir profissionais do direito do Direito: devemos distinguir operadores da justiça da Justiça.
Assistimos perplexos a juízes que são nomeados como magistrados, mas efetivamente tomam posse como deuses, consideravelmente distanciados do mundo real, encastelados nos seus confortáveis gabinetes climatizados e imunes a sentimentos próprios de nós, pobres humanos. Esquecem porém, esses falsos deuses que mesmo com a onipotência e o privilégio inebriante de sempre ter razão, peculiar das divindades: falta-lhes a humildade, a franqueza, a serenidade, a bondade, a simplicidade, e principalmente o amor que deve nortear todas as ações praticadas pelos seres considerados divinos, que mesmo distanciados pela sua perfeição possuem um compromisso ético com suas consciências.
Suplicamos à verdadeira Justiça que ajude-nos a diferenciar a parte, do todo: auxilie-nos a distinguir os verdadeiros instrumentos da justiça (juízes verdadeiramente preocupados em saciar a sede de justiça desta grande vítima que é a sociedade) daqueles que preocupam-se apenas em vestir-se de cordeiros quando na verdade são lobos agindo inescrupulosamente com o objetivo de ingressarem no templo da Justiça e, ardilosamente disfarçados, atingirem a frágil sociedade que constantemente é golpeada nas costas sem possuir sequer o privilégio ou, porque não dizer, a sorte de ter tido a oportunidade de algum tipo de registro de tal violência, que possibilite o conhecimento por parte do grande público.
A prepotência, grosseira vaidade e a exagerada soberba devem ser banidas da honrada toga e compete a nós, que integramos a sociedade, auxiliarmos a Justiça neste processo necessário de purificação, por tratar-se de um dever de cidadania que não pode ser esquecido, sob pena de vivermos eternamente na sombra do medo e abraçados com a insegurança.
Assim devemos, novamente enquanto vítima, nos erguer e lembrarmos de que Jacques Charpentier há quase quarenta anos defendeu: ´devemos sonhar com o juiz do futuro: cavalheiro - hábil para sondar o coração humano, enamorado da ciência e da justiça, ao mesmo tempo que insensível às vaidades do cargo.; arguto para descobrir as espertezas dos poderosos do dinheiro.; informado do mundo moderno, no ritmo desta era, onde as distâncias se apagam e as fronteiras se destroem, onde enfim, as distâncias entre os homens serão simples e amargas lembranças do passado´. Por fim, clama a sociedade, ainda banhada de sangue, que a Justiça pratique justiça.
(Publicado no Diário do Nordeste, dia 22 de março de 2005)
Responda:
1- Na sua opinião o que deve ser feito para aproximar o direito da justiça.