A10/b- Texto para reflexão (02/05/2011)
Convido-os a analisar este artigo, e expor sua opinião:
QUEM SÃO OS MORDOMOS DO CONHECIMENTO
O capital intelectual de uma organização reside, essencialmente, no conhecimento de cada um dos indivíduos que a compõem. Esse é um fato que ninguém é capaz de negar. Ninguém nega também que a rotatividade dos profissionais nas ditas organizações do conhecimento – organizações que dependem essencialmente do conhecimento, empresas de advocacia, consultoras, agências etc. – é cada vez maior. Isso quer dizer: profissionais saem e novos profissionais chegam. Os primeiros levam consigo o conhecimento que adquiriram, os novos trazem o seu conhecimento, mas desconhecem a identidade dessa sua nova comunidade.
Embora a primeira situação seja insistentemente apontada como uma das principais motivações para iniciativas de gestão de conhecimento, considero que a segunda é tão ou mais pertinente.
Fluxo de conhecimento
Nas organizações, pode-se identificar um fluxo de conhecimento bastante simplificado em que há passagem bidirecional de conhecimento entre a organização e os seus profissionais, e há passagem de conhecimento da organização para os novos profissionais. A passagem de conhecimento para os novos profissionais tem um auge na altura em que esses se juntam à organização. Contudo, a intensidade desse fluxo vai diminuindo, sendo quase nula em algumas organizações. Isso significa que, para os profissionais em geral, embora esse fluxo exista, ele não é significativo. Assim, como não é também significativo o fluxo que ocorre entre os profissionais e a organização.
Saber qual a causa e qual a conseqüência é um pouco discutir o ovo e a galinha. Se os profissionais não alimentam a organização com o seu conhecimento, essa não poderá alimentá-los. Por sua vez, se a organização não os alimenta, os profissionais dificilmente se sentirão tentados a premiá-la com o seu saber.
Há então que tentar quebrar esse ciclo vicioso reduzindo o esforço inicial de familiarização dos novos profissionais, introduzindo-os rapidamente numa situação normal de fluxo intenso de conhecimento entre a organização e os profissionais e vice-versa.
O papel de mordomo de conhecimento
Essa iniciativa tem de partir da organização que deve, antes de qualquer coisa, reunir um conjunto de infra-estruturas para que esse fluxo tenha lugar. Essas infra-estruturas podem ser tão simples como colocar máquinas de café entre pisos, organizar encontros informais para discussão de assuntos de interesse geral, criar as páginas amarelas da organização, permitir listas eletrônicas de discussão, etc.
Para além disso, as organizações podem optar por criar o papel de Mordomo de Conhecimento. O mordomo de conhecimento será o indivíduo responsável por capturar o conhecimento tácito e explícito que os profissionais possuem, registrá-lo e guardá-lo da forma mais adequada, torná-lo acessível, e informar da sua existência.
Uma questão que se coloca, porém, é quem devem ser os mordomos de conhecimento numa organização.
Quem devem ser?
Sem dúvida alguma que esses indivíduos têm de reunir uma série de características: honestidade, sensibilidade, simpatia, abertura, etc. Contudo, uma questão se levanta: devem os mordomos de conhecimento ser encontrados entre os atuais profissionais da organização, devem ser novos profissionais, ou devem ser pessoas contratadas – a título individual ou como elementos de uma consultoria, por exemplo?
Devo dizer que não tenho uma resposta, mas me colocaram a questão há pouco tempo, então pesando os prós e os contras de cada uma das opções, cheguei àquilo a que apenas chamo a minha opinião.
Uma das vantagens de atribuir esse cargo a um atual profissional é o fato de ele já conhecer a identidade da organização e as pessoas que nela trabalham. Isso evita um trabalho inicial de familiarização e permite uma abordagem personalizada a cada indivíduo. Contudo, essa vantagem é também a sua maior desvantagem: ao conhecer a organização, é difícil a abstração necessária para identificar problemas e falhas, e o conhecimento que existe, mas que não reside na memória organizacional. Uma outra desvantagem é a probabilidade desse mordomo ser visto como uma ameaça pelos companheiros. Para muitos, esse colega poderá apenas roubar o conhecimento que lhes pertence, podendo mais tarde vir a usá-lo em seu proveito para progressão na organização.
Pensando no caso de um novo profissional, eliminamos a desvantagem causada pelo conhecimento da organização. Porém, deixamos, também, de ter as vantagens que traz. Mas, para além disso, o novo profissional vai chegar à organização e, para que não caia rapidamente na situação anterior, não vai passar pelo habitual processo de introdução. Vai tornar-se um profissional que não partilha todos os valores e a cultura da organização, e que aos poucos se irá tornar num profissional atual desenraizado.
Finalmente, considerando o caso de um indivíduo externo contratado para essa função específica, temos uma situação em que a pessoa não conhece os profissionais e, por isso, não sabe como os abordar. Contudo, é uma pessoa externa, que geralmente é vista com respeito – assim que seja entendida a sua função – e que não está condicionada por tempo de trabalho na organização. Os profissionais tendem a ceder o conhecimento que possuem sem medo desse ser roubado pelo seu interlocutor. As desvantagens principais dessa situação são o custo mais elevado e o curto espaço de tempo que a pessoa fica na organização.
Conclusões
Pesando tudo isso, sinto-me inclinada a pensar que a terceira situação, em que a organização contrata alguém externo, é a preferida. Se uma organização está verdadeiramente empenhada em recolher o conhecimento dos seus profissionais para o fazer circular, o custo mais elevado dessa opção não deverá ser obstáculo. Além disso, embora os mordomos externos estejam na organização por pouco tempo, é possível garantir que eles recolham o conhecimento vital e que abram as portas para que alguém, interno à organização, possa prosseguir sem correr o risco de matar a iniciativa no nascimento.
Para terminar, devo dizer que rejeitaria por completo a hipótese de um mordomo de conhecimento ser identificado num novo profissional, mas não deixaria de considerar um profissional atual.
Fonte: NEVES, Ana. Mordomos do conhecimento: quem são? Disponível em: http://www.kmol.online.pt/artigos/200110/nev01_1.html.