A10/b – Texto para reflexão ( 05/05/2011)
A foto é bastante forte e agressiva, mas a violência explicitada pela foto ainda fica distante da violência praticada em nome da vaidade e do lucro. Devemos buscar a qualidade, mas não podemos admitir fatos incoerentes e absurdos como o descrito no artigo da jornalista Julianna Antunes a respeito de certificação, que nos convida a refletir sobre o tema.
Julianna Antunes (Diretora da Agência de Sustentabilidade, empresa de consultoria estratégica voltada para a implementação de projetos de sustentabilidade corporativa. Jornalista por formação, quero mudar o mundo. Por vocação. E para conseguir isso acredito que a forma mais "fácil" e viável seja através da sustentabilidade corporativa)
A realidade por trás das certificações
Julianna Antunes (Diretora da Agência de Sustentabilidade, empresa de consultoria estratégica voltada para a implementação de projetos de sustentabilidade corporativa. Jornalista por formação, quero mudar o mundo. Por vocação. E para conseguir isso acredito que a forma mais "fácil" e viável seja através da sustentabilidade corporativa)
Nos dias de hoje, em qualquer área, muito se fala de certificações. A área de TI então tem uma enxurrada delas e o mercado abre as portas para quem se dispõe pagar uma pequena fortuna para ostentar uma suposta qualificação a mais. Na sustentabilidade isso não é diferente. Acontece que, diferente do que as pessoas imaginam, certificação não é sinônimo de competência (no caso de profissionais) e não é sinônimo de sustentabilidade (no caso de empresas).
Muitas empresas acham que investir uma boa quantia (porque é caro) numa certificação como a ISO 140001 vai fazer com que sejam sustentáveis ou, pelo menos, ambientalmente responsáveis. Não vai. A ISO certifica um processo ou parte de um processo. E o escopo de atuação dela é limitado. Por exemplo: ela certifica que a gestão de resíduos de uma empresa está em conformidade com a norma. Mas ela não garante que o consumo de matéria prima que gera esses resíduos se dê de uma forma sustentável.
Ontem soube da nova coleção da Arezzo, a Pelemania. A Pelemania é a entrada da Arezzo no mercado de casacos e acessórios de inverno, utilizando peles de coelho, cabra, ovelha, raposa... Aí vem a empresa e fala a insanidade de que as peles são certificadas. O que isso quer dizer? Que o coelho sofreu menos para morrer?
Antes que alguém venha falar de carne, há uma diferença básica. Sou a favor de exigirmos uma CERTIFICAÇÃO de procedência da carne; é o mínimo, pois o processo hoje é altamente danoso, principalmente a carne da região norte. Depois disso podemos cobrar sustentabilidade das empresas que vendem o produto. Mas não associo a sustentabilidade ao vegetarianismo. Isso é biológico. Os seres humanos são animais carnívoros. Seja vegetariano quem quiser, mas não buzinem no meu ouvido me chamando de insustentável por comer carne.
Pois bem, a diferença entre ter uma certificação que assegura processos sustentáveis para a produção de carne e a produção de pele para confecção de casacos está em uma única palavra: necessidade. Além de não termos necessidade de usarmos peles de animais para nos cobrirmos, pois há as peles sintéticas e muitas outras opções, me questiono se a Arezzo fez alguma pesquisa climática para lançar uma linha de produtos que em nada tem a ver com o nosso clima. Ou seja, estupidez. Certificada.
A questão é que certificação hoje é uma indústria muito lucrativa. Seja para as empresas que certificam, seja para as empresas que qualificam os auditores, seja para as próprias empresas certificadas, pois fica cada vez mais claro que o objetivo não é melhoria e eficiência de processos, mas marketing e consequente lucro rápido. Afinal, pouco importa se estivermos fazendo um consumo completamente irresponsável. Os produtos certificados estão aí para aliviar a nossa consciência, mesmo que, de fato, eles não sejam sustentáveis.
Fonte (www.administradores.com.br em 25 de abril de 2011)